Analisando a decisão do Bayern de manter Tuchel: o que eles estavam pensando?

Após um surpreendente colapso de seus jogadores no segundo tempo no Stadio Olimpico, há três semanas, Thomas Tuchel expressou sua descrença ao argumentar que não foi a Lazio quem venceu o jogo, mas sim o Bayern de Munique que o perdeu.

Este tema recorrente ficou evidente nas recentes coletivas de imprensa pós-jogo de Tuchel. Depois do empate 2-2 com o Freiburg, que essencialmente acabou com as esperanças do Bayern de Munique de conquistar o título da Bundesliga, Tuchel voltou a salientar que as feridas da sua equipa foram auto-infligidas.

Em entrevista ao DAZN, Tuchel expressou a sua confusão, afirmando: “Começamos o jogo como se já fossem 85 minutos e estávamos perdendo por 1 a 0. Não foi uma questão de falta de vontade ou esforço, mas sim de jogar sem gol durante a primeira meia hora e, finalmente, ser punido por isso."

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Thomas Tuchel detalhou ainda mais o desempenho da equipe, mencionando que eles iniciaram os ataques prematuramente, perderam a posse de bola durante os movimentos de ataque e ficaram vulneráveis ​​aos contra-ataques. Ele criticou a falta de estrutura, disciplina e posicionamento correto da equipe, descrevendo-a como parcialmente autodestrutiva ou semelhante ao "harakiri".

A utilização do termo "harakiri" evocou, compreensivelmente, fortes reações tanto da mídia alemã quanto do próprio clube. Essas imagens violentas apenas aumentaram a tensão crescente na Allianz Arena antes do jogo crucial de segunda mão da Liga dos Campeões contra a Lazio, na terça-feira.

Embora o uso de "harakiri" possa parecer extremo, tem alguma justificação, já que o Bayern de Munique é de facto responsável por sabotar as suas próprias hipóteses de sucesso nesta temporada.

'Filme de terror' sem fim

Em 21 de fevereiro, o CEO do Bayern, Jan-Christian Dreesen, fez o surpreendente anúncio de que o clube se separaria de Thomas Tuchel no final da temporada. Esta decisão foi recebida com confusão e perplexidade, pois parecia ser uma reação incomum à série historicamente fraca de resultados da equipe e destacou uma desconexão entre a comissão técnica e os jogadores. Esta desconexão foi exemplificada pela discussão entre Zsolt Low e Joshua Kimmich após a embaraçosa derrota para o Bochum em 18 de fevereiro.

A essa altura, era evidente que Tuchel não tinha soluções para os numerosos problemas do Bayern. Durante a derrota chocante para a Lazio em 14 de fevereiro, Tuchel pôde ser visto gesticulando desesperadamente nos bastidores, tentando incutir maior velocidade e urgência no jogo de seu time. No entanto, as suas instruções apaixonadas não conseguiram suscitar uma resposta significativa e o Bayern não conseguiu recuperar a crença que tinha inexplicavelmente desaparecido durante a segunda parte de um jogo que inicialmente dominara.

“Não consigo explicar”, admitiu Tuchel depois. "Tínhamos instruído a equipa a manter a intensidade e a ser ainda mais ousada no ataque, mas parecia que perdemos a compostura no início da parte."

Tuchel parecia perdido e, naquela mesma noite, o meio-campista Leon Goretzka comparou a situação a um interminável “filme de terror”. Dadas estas circunstâncias, porque é que o Bayern optou por prolongar a agonia mantendo Tuchel?

Divisão de camarim

A indisponibilidade do seu principal alvo, Xabi Alonso, até depois do final da temporada, juntamente com a incerteza em torno de opções alternativas, provavelmente contribuíram para a decisão do Bayern de manter Thomas Tuchel. No entanto, a ideia de que anunciar a saída de Tuchel de alguma forma reuniria o time era, na melhor das hipóteses, ingênua e, na pior, totalmente tola. A posição de Tuchel no Bayern não é comparável à de Jurgen Klopp no ​​Liverpool ou de Xavi no Barcelona . O clube não está unido para garantir uma despedida triunfante de uma figura querida.

O facto de Jan-Christian Dreesen ter apelado explicitamente aos jogadores para darem o seu máximo durante os meses restantes do mandato de Tuchel revela a extensão da divisão dentro do balneário. Isto diz muito sobre a situação atual do Bayern de Munique.

'É preciso ter o respeito dos jogadores'

As expectativas do Bayern de que a notícia da saída iminente de Tuchel uniria o time ou o inspiraria à glória na Liga dos Campeões não eram realistas. Como bem destacou Jupp Heynckes, um lendário ex-técnico do Bayern, o treinador deve ter o respeito dos jogadores para alcançar o sucesso, independentemente da situação contratual.

Ironicamente, há agora relatos que sugerem que Tuchel poderá ser imediatamente dispensado das suas funções se o Bayern não conseguir reverter a desvantagem de 1-0 frente à Lazio. Isto levanta a questão de por que o Bayern persistiu com um acordo que claramente não estava a funcionar se havia pouca confiança no treinador, tanto na sala de reuniões como no balneário, e a sua continuação dependia do sucesso europeu.

Além disso, as chances do Bayern de vencer a Liga dos Campeões parecem mínimas, mesmo que ultrapasse a Lazio, que está passando por dificuldades na Série A. Eles enfrentariam adversários formidáveis ​​nas quartas-de-final, já que a confirmação da saída de Tuchel não resolveu os problemas subjacentes dentro da equipe. .

'Fizemos coisas sobre as quais nunca havíamos conversado'

Após o anúncio da saída de Tuchel, o Bayern conseguiu garantir a vitória no primeiro jogo, graças a um gol tardio de Harry Kane contra o RB Leipzig. No entanto, empatou em 2 a 2 com o Freiburg, o que agora o coloca 10 pontos atrás do invicto Bayer Leverkusen, faltando 10 rodadas para o fim.

Embora seja improvável que a maldição “Neverkusen” volte a atacar, é preciso considerar se o Bayern capitalizaria qualquer potencial colapso do Leverkusen. A resposta é altamente duvidosa. A equipe atualmente carece de convicção, coerência e consistência, o que a torna incapaz de ter o melhor desempenho durante os 90 minutos completos.

Embora o Bayern tenha terminado bem a partida contra o Freiburg, o primeiro tempo foi desastroso e Tuchel acusou indiretamente seus jogadores de desrespeitarem suas instruções pré-jogo. Ele afirmou em entrevista ao DAZN: "Ontem tivemos um treinamento defensivo específico e uma sessão de análise de vídeo. As instruções foram comunicadas com clareza. No entanto, executamos ações que nunca havíamos treinado ou mesmo discutido antes."

A utilização da linha “harakiri”, embora não seja bem recebida pelo clube, levanta a questão sobre o que exactamente o Bayern esperava que acontecesse dadas as circunstâncias.

'Não é mais problema meu!'

Tuchel ganhou a reputação de ser uma personalidade um tanto desafiadora, o que pode explicar por que ele nunca durou mais de dois anos nos grandes clubes que dirigiu. Dada a sua natureza, era inevitável que ele usasse uma linguagem colorida e emotiva em tal cenário.

Na verdade, Tuchel deu uma dica do que estava por vir após a vitória por pouco sobre o Leipzig. Quando questionado sobre o momento da notícia de sua saída, ele expressou uma opinião positiva, afirmando à ESPN: "Agora temos clareza. Isso também me dá um pouco de liberdade. Porque, a cada decisão, talvez se um jogador ficar bravo , não me preocupo tanto porque no verão, de certa forma, isso não é mais problema meu!"

A perspectiva de Tuchel é válida – não é mais problema dele. Cabe ao Bayern assumir a responsabilidade de tornar uma situação ainda pior.

Fim lento e doloroso da temporada do Bayern?

A atual gestão do Bayern de Munique parece tão confusa e sem convicção quanto os jogadores. A gestão da demissão de Julian Nagelsmann há um ano foi mal executada e agora parece prematura. O recrutamento de jogadores do clube tem sido abaixo da média, com várias transferências malfeitas, e a turbulência em torno de Tuchel perdura por muito tempo. Há até rumores de que o jovem e talentoso jogador Jamal Musiala quer sair, com Manchester City ou Liverpool potencialmente oferecendo um ambiente mais estável. O Bayern está envolto em incertezas há mais de um ano.

Parece que Dreesen e a administração acreditavam que manter Tuchel era a melhor maneira de salvar a temporada atual devido à falta de alternativas de classe mundial. No entanto, o problema surge quando alguns jogadores desejam claramente que o mandato de Tuchel termine. É possível que seu tempo como técnico termine abruptamente na Allianz Arena, na terça-feira. No entanto, numa reviravolta peculiar, para uma equipa, clube e treinador aparentemente determinados a autodestruir-se, uma morte lenta, dolorosa e indigna parece mais provável e adequada às esperanças do Bayern de evitar a sua primeira época sem troféus desde 2012.

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