Beckenbauer: o icônico 'Der Kaiser' que revolucionou a arte de defender

A morte de Franz Beckenbauer, aos 78 anos, mergulhou a Alemanha no luto. Contudo, a perda é sentida muito além das fronteiras do país. Beckenbauer foi uma figura icônica do futebol, conhecido como “o maior zagueiro de todos os tempos”, segundo a Gazzetta dello Sport da Itália. Como um líbero lendário, ele revolucionou a função não apenas limpando defensivamente, mas também contribuindo como um craque profundo. Ele até se aventurou no meio-campo para apoiar os ataques, tornando a posição do zagueiro cool e glamorosa.

A influência de Beckenbauer foi tão profunda que, como afirmou Marca, “Todos queríamos ser Beckenbauer!” O seu impacto estendeu-se aos adeptos do futebol de todas as gerações, pois não só serviu de exemplo a imitar, mas também se tornou uma referência mítica. Ele estabeleceu um padrão de excelência incrivelmente alto, pelo qual todos os outros são avaliados.

'Definiu uma era'

Jamie Carragher, antigo defesa-central do Liverpool e de Inglaterra, confessou que quando criança, Franz Beckenbauer foi o primeiro jogador de futebol estrangeiro de quem ouviu falar. A influência de Beckenbauer foi tão significativa que sempre que um jogador tentava jogar na defesa, em qualquer nível, Carragher ouvia a frase: "Ele pensa que é Beckenbauer!"

Ninguém, porém, jamais desempenhou o papel com a mesma eficácia e graça que Beckenbauer. Até o renomado Franco Baresi se sentia incomodado com as constantes comparações com a lenda alemã. Baresi o descreveu como um imperador por sua interpretação do papel e expressou grande admiração por Beckenbauer. Segundo o ícone italiano, Beckenbauer definiu uma época e serviu de enorme inspiração para ele.

'Nosso mundo não é o mesmo de antes'

Franz Beckenbauer serviu como pedra angular do sucesso do Bayern de Munique , atuando como a base sobre a qual a grandeza do clube foi construída.

“De repente, o nosso mundo não é o mesmo de antes – mais escuro, mais silencioso e em pior situação”, afirmaram os bávaros. "Os campeões recordistas estão de luto pela perda de Franz Beckenbauer, o incomparável 'Kaiser' sem o qual o FC Bayern nunca teria se tornado o clube que é hoje."

Seu sucesso pode ser atribuído a um único momento, o tapa mais notório e impactante da história do futebol.

'Eu não vou para 1860!'

Crescendo em Giesing, um reduto da Munique de 1860, Franz Beckenbauer sempre sonhou em jogar pelo time local. Ele possuía a habilidade e o talento para transformar esse sonho em realidade. A notável velocidade de Beckenbauer, que ele atribuiu às ruas onde cresceu, tornou-se seu trunfo inestimável. Ele explicou: "Eu sabia que precisava correr rápido quando havia problemas. Meu ritmo era meu dom para me manter longe de problemas."

A mudança para Munique em 1860 parecia inevitável, mas o destino tomou um rumo diferente quando, aos 13 anos, Beckenbauer jogou contra seu querido time. Infelizmente, o defesa-central de 1860 estava longe de ser amigável com ele. “Durante o jogo”, revelou Beckenbauer ao site oficial do Bayern, “ele deu-me uma bofetada e, com isso, tomei a decisão: não vou para 1860! foi uma má decisão..."

Na verdade, a escolha de Beckenbauer de ingressar no Bayern de Munique tornou-se um dos momentos decisivos na história do futebol. Rapidamente ficou evidente que ele era um talento excepcional, um dos pioneiros do futebol total, e sua decisão o colocou no caminho para se tornar um dos maiores jogadores do esporte.

A única coisa que está no caminho da Inglaterra

Embora Franz Beckenbauer tenha jogado inicialmente como atacante, quando chegou a Copa do Mundo de 1966, o jovem de 20 anos já havia se mostrado um dos meio-campistas mais versáteis e temidos do mundo.

Durante o torneio, Beckenbauer mostrou sua habilidade como goleiro, marcando quatro gols. Seus gols incluíram golpes cruciais nas quartas de final e semifinais. A ameaça representada pelo dinâmico número 4 da Alemanha deixou o técnico da Inglaterra, Alf Ramsey, apreensivo e preocupado com o impacto que Beckenbauer poderia ter no jogo.

Sir Bobby Charlton, refletindo sobre a final da Copa do Mundo de 1966, revelou que o técnico da Inglaterra, Alf Ramsey, lhe confidenciou sobre a figura-chave que poderia potencialmente impedir sua vitória - Franz Beckenbauer. Consequentemente, Charlton foi incumbido da responsabilidade de marcar o jovem jogador alemão naquela que foi a partida mais significativa de sua carreira.

Curiosamente, os papéis foram invertidos, já que Beckenbauer também recebeu a tarefa de marcar o Charlton por seu técnico, Helmut Schon. Como resultado, os dois jogadores neutralizaram-se mutuamente, levando à vitória da Inglaterra por 4-2 no Estádio de Wembley.

'Que lição ele deu a todos'

A Alemanha vingou-se da Inglaterra pela polêmica derrota na Copa do Mundo de 1966, quatro anos depois, na Copa do Mundo do México. Numa jogada inesperada, o seleccionador da Inglaterra, Alf Ramsey, decidiu substituir Bobby Charlton, o que permitiu a Franz Beckenbauer brilhar e levar a Alemanha a uma famosa vitória de recuperação sobre o seu arquirrival, com um golo aos 68 minutos.

No entanto, o verdadeiro heroísmo de Beckenbauer foi testemunhado na semifinal, conhecida como “A Partida do Século”, contra a Itália. Faltando apenas 20 minutos para o fim, Beckenbauer sofreu uma luxação no ombro. Apesar da Alemanha já ter feito duas substituições, Beckenbauer recusou-se a sair de campo, não querendo deixar a sua equipa com apenas 10 jogadores. Como resultado, ele continuou a jogar com o braço na tipoia, mostrando suas excepcionais habilidades de passe e determinação. Esta imagem icônica de Beckenbauer pulverizando passes ao redor do Estádio Azteca com o braço machucado tornou-se emblemática de uma das maiores Copas do Mundo da história.

Embora a Alemanha tenha perdido a partida para a Itália, o herói do dia, Gianni Rivera, ficou maravilhado com Beckenbauer. Rivera elogiou a resiliência do jogador alemão, afirmando: "Que lição ele deu a todos: receber um golpe tão forte, mas continuar jogando por 50 minutos. Foi heróico".

De 'Kaiser' a 'Lichtgestalt'

O legado de Franz Beckenbauer vai além do seu imenso talento como jogador. Ele não era apenas um grande jogador de futebol, mas também um personagem notável e um líder nato. Inicialmente visto como um novato arrogante, seu estilo de jogo de cabeça erguida, controlando o jogo com equilíbrio e confiança, valeu-lhe o apelido de "Kaiser Franz". Alguns o acusaram de exibicionismo em resposta à hostilidade e às brincadeiras violentas.

Com o passar do tempo, porém, até o título de “Imperador” parecia insuficiente para Beckenbauer. Com dois prêmios Ballon d'Or e numerosos sucessos, incluindo levar a Alemanha Ocidental à glória na Copa do Mundo em 1974 e vencer três Copas Europeias consecutivas com o Bayern de Munique, ele ficou conhecido como o "Lichtgestalt", a luz celestial brilhante do futebol alemão.

Apesar de enfrentar tempos sombrios, como estar envolvido em escândalos de corrupção da FIFA e no escrutínio da sua vida pessoal, Beckenbauer será sempre lembrado como uma das figuras mais influentes da história do futebol. Ao lado de Pelé, Johan Cruyff e George Best, ele foi uma das primeiras verdadeiras estrelas do futebol e um pioneiro que não apenas jogou o jogo, mas também o mudou.

Quando se trata de atacar ídolos, todos podem ter o seu favorito entre Pelé, Cruyff e Best, mas Beckenbauer permanecerá para sempre o defensor que todos aspiravam ser.

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